domingo, 27 de abril de 2008

Assombramento…



Sinto um enorme aperto no peito, gostava muito perceber porque é que a vontade de amar e ser amada me consome o peito com uma ânsia tal que chega mesmo a doer. Gostava muito de aprender a viver com a solidão e de aprender a amar tudo de bom que a vida me tem dado. Não consigo, quero mais, quero dar e receber algo incondicional, sem limites. Quero algo que me encha os olhos e o peito, sentir que o que dou é único e que quem recebe respira cada gesto, cada momento e o faça tão ou mais feliz do que eu. Quero muito deixar o passado para trás e que a dor que um dia senti, não serviu para mais nada a não ser para crescer e perceber o que realmente é importante. O momento que vivi fez-me pensar que talvez o erro fosse meu, que fosse eu que não soubesse amar, mas o tempo mostrou-me que o erro é apenas o de não saber amar sozinha, não gosto de nada pela metade e gosto de sentir que sou especial. Mas quem não gosta? Quem não quer ser amado acima de tudo e de qualquer coisa? Talvez ainda não tenha chegado o meu momento, e apenas me dói saber que nesta sociedade egoísta e solitária possa nunca vir a sentir aquilo que busco. A acreditar numa vida eterna e num céu repleto de paz e amor, um dia uma estrela cuidará de mim com tal brilho e intensidade que me sentirei finalmente amada e em paz por ter alcançado esse momento mágico.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Elogio ao amor


Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estupido, do amor doente, do unico amor verdadeiro que ha, estou farto de conversas, farto de compreensoes, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tao embrutecidos, tao cobardes e tao comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sao uma raia de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "ta tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananoides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Ja ninguem se apaixona? Ja ninguem aceita a paixao pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilibrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor e uma coisa, a vida e outra. O amor nao é para ser uma ajudinha. Nao é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não e para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao ceu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

Miguel Esteves Cardoso